Cadê a serenidade?
por Mônica Waldvogel
Na hora de passar ao país a imagem de homem sereno e maduro, qualidades indispensáveis a um presidente da republica, Ciro Gomes insiste em transmitir a imagem de homem explosivo e pavio curto. Xinga fotógrafos, destrata um estudante negro, faz alianças
estapafúrdias, bate boca com empresários, agride adversários. Deve ser algum tipo misterioso de estratégia. Só isso pode explicar a
provocação gratuita que ele fez a Lula, a quem acusou de "estar domesticado" e de "estar entreguezinho" (ao governo). Pode-se
gostar ou não de Lula, pode-se votar ou não nele, mas não se pode negar que, no Brasil dos últimos 25 anos, ninguém foi mais posição do que ele. Foi oposição - e sempre oposição firme - ao governo militar, ao governo Sarney, a Collor e a FHC. Goste-se ou não de Lula e de suas idéias, o que não se lhe pode negar é coerência. E muito menos Ciro, que só agora, na campanha de 2002, esta sendo oposição pela primeira vez na vida. Na época da ditadura, enquanto Lula estava na cadeia, Serra no exílio e garotinho protestando nas ruas de campos dos Goytacazes, Ciro preferia o conforto da filiação ao velho PDS que sustentava o regime militar e
abrigava as forças políticas mais conservadoras do país. Enquanto estava no PDS, não viu as torturas, nem sentiu falta de emocracia, nem enxergou a censura à imprensa a às artes nem detectou sinais de corrupção. Se viu, sentiu, enxergou e detectou, não deu a
menor importância a isso. Ou, se deu - pior ainda - calou a boca, mostrando que estava muito bem "domesticado", "entreguezinho" a um regime que infelicitou o país por 18 anos. Depois foi aliado de Collor, brigou com ele; foi aliado de FHC, brigou com ele, foi aliado de ACM, brigou com ele. Ai começou tudo outra vez: detestava Brizolla, virou aliado preferencial dele; fez nova aliança com ACM e Collor e hoje, posando de oposicionista, é o candidato do PFL, aliado umbilical de FHC durante os dois mandatos. O que Ciro disse de Lula, alem de injusto, é inverídico; e, além de inverídico, é profundamente ingrato. A liberdade que hoje permite a ele dizer coisas tão absurdas foi garantida pelos passados de Lula e Serra (e até de Garotinho), nunca pelo dele. É por essas e outras que fica difícil defender o candidato Ciro Gomes quando candidato José Serra diz que ele "Mente por compulsão" ou quando o presidente do PT José Dirceu, diz que ele tem uma "tendência incontrolável para mentir". Não é este estilo - constatado por dois lados diferentes da disputa - que leva alguém à presidência.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home