O placar que preocupa
*Sílvio Aloysio Rockenbach - Porto Alegre, na página de Opinião - aqui na íntegra, sem restrições de espaço.
*Editor do portal BrasilAlemanha
Fonte: Zero Hora, Porto Alegre, RS – 09 06 2006
http://www.zerohora.com.br/
Começa nesta 6ª. feira um período de exposição máxima na mídia mundial, com afirmação incomum, de dois países contrastantes e complementares que se admiram reciprocamente: de um lado, cintila a estrela da Alemanha anfitriã, protótipo de organização, tecnologia, hospitalidade, expoente qualificado de país-grande do sonhado Primeiro Mundo, ressurgido das cinzas. De outro, fulgura o Brasil, cercado da expectativa universal em torno de expoentes máximos do malabarismo e da criatividade de um futebol super-profissional, exportador e vencedor.
Em 1974, a Alemanha, ainda dividida, organizava pela primeira vez uma Copa
do Mundo e vencia na final, com o imponente “Kaiser” Beckenbauer e
“súditos”, sob o comando do arqueado Helmut Schon, a espetacular Laranja
Mecânica holandesa de Cruyff, Neeskens e Cia, acionada pelo genial Rinus
Michels. Vinte anos antes, em 04.07.1954, em Berna, na Suíça, o “raposa”
Sepp Herberger com o legendário Fritz Walter, Helmut Rahn e Cia., havia
batido, em “crime” bem maior, a “invencível” Hungria de Puskás, Kocsis e
Cia., depois de haver perdido por ardilosos 8 a 3 para a mesma Hungria em
fase anterior, alçando a Alemanha novamente no concerto das nações após a
derrocada de 1945.
Já o Brasil, em 1974, com a rutilante faixa de tricampeão conquistada no México, em plena vigência do “milagre econômico brasileiro”, sob ditadura militar, dava vexame já no período preparatório na Suíça, com a concentração cercada de policiais, cães farejadores e arame farpado. A desprezada Holanda (“Eles é que têm que se preocupar conosco”, Zagallo) emitiu antecipadamente nossa merecida passagem de volta. Nem a Polônia respeitou nossa estraçalhada faixa de tricampeões e nos relegou ao 4º lugar.
Em 1982, na Espanha, o Brasil redemocratizado, com Zico, Sócrates, Falcão, Careca e comandados do saudoso embaixador do futebol-arte Telê Santana, perdia prematuramente para o algoz Paolo Rossi, da Itália, a oportunidade de encantar o mundo, que, a rigor, só retorna agora, neste 2006. Um ano antes, em 1981, o Brasil-futebol-maravilha havia passeado seus encantos com vitórias nacionais maiúsculas em Londres, Paris e Berlim.
A Alemanha que acolhe o Brasil de hoje é um país de 82,5 milhões de
habitantes. Destes, sete milhões são estrangeiros de quase 200
nacionalidades. Do tamanho do Rio Grande do Sul e Santa Catarina juntos, é
bicampeão mundial de exportações (US$ 913 bilhões em 2005), sede de cada
sete entre 10 feiras mundiais, líder mundial em tecnologia de meio ambiente,
construção, transportes, país dos grandes pensadores, reformadores,
compositores, agora oficialmente assumido “país das idéias”. Assim como
Brasil se orgulha da invenção da aviação, da urna eletrônica e da dominação
da exploração petrolífera em alto mar, a Alemanha celebra a invenção do
automóvel, do trem, da televisão, do dínamo, do computador, do formato mp3,
do airbag; do jogo de paciência; aspirina; motocicleta; gaita de boca;
imprensa; cartão magnético; pílula; salsicha curry como fast-food;
toca-discos; motor a diesel; bucha de parede; turbina a jato; raio-x;
scanner; planador; chuteira com garras removíveis; lâmpada incandescente;
bonde; helicóptero; saquinho de chá; jeans (Levi Strauss); telefone; filtro
de café; garrafa térmica; fissão nuclear; gravador de áudio; cãmara 35mm;
elevador giratório; refrigerador; vácuo; trem magnético; pasta de dente;
vela de ignição e outras revoluções, como a reforma luterana, a
bacteriologia, a teoria da relatividade, a legislação social (com
Bismarck), a homeopatia e outras inovações. A Alemanha é o maior exportador
mundial de café... industrializado. Sem plantar um único pé de café! Mais
importante que a terra e o clima são a inteligência, a tecnologia, o
capital.
Neste contexto, preocupa um placar alarmante. Na última Copa do Mundo, na Coréia/Japão, o Brasil venceu a Alemanha na final por 2 a 0 e conquistou o inédito pentacampeonato mundial. Num outro campeonato, disputado ano após ano em Estocolmo, com juízes certamente um tanto “localistas”, é até covardia. O placar dos Prêmios Nobel acusa Alemanha 77 x 0 Brasil. E este placar preocupa. Será que o Brasil continua pensando com os pés, conforme curiosa observação ouvida recentemente de um respeitável cidadão de 80 anos? Sem querer colocar água fria na fervura nacional, impõe-se a pergunta com resposta evidente: Não seria ainda melhor comemorarmos o esperado hexacampeonato com todas as benesses do conhecimento, da tecnologia, do conforto no lar, da conta bancária equilibrada, da segurança nas ruas e do bom-senso nas estradas, do brilho das inteligências estimuladas desde a nascença, da vitória sobre a ignorância, das oportunidades para todos? Brasil brilhando na Copa do Mundo na Alemanha: tempo também para muitas reflexões, ensinamentos, aprendizagens e aproximações!com um povo que tão bem nos acolhe!
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